A cidade de São José do Brejo do Cruz, na Paraíba, é a única do país com mais candidatas mulheres disputando às eleições municipais 2020. As postulantes à prefeitura do município são duas, a atual, Ana Maria (PL), e Kalinne Saraiva, do DEM.
A diferença entre o gênero dos candidatos neste ano em São José do Brejo do Cruz é pequena — são 11 mulheres e 10 homens —, mas é suficiente para torná-la exceção entre 5.570 municípios. Ainda assim, entre os nove atuais vereadores, só duas são mulheres, Ariana Saldanha (PP) e Janaina de Marito (PL).
Ariana é a presidente da Câmara Municipal por dez anos e com 24 anos de carreira política em São José do Brejo do Cruz.
Encravada na região do Catolé do Rocha, um pedaço da Paraíba quase totalmente cercado pelo vizinho Rio Grande do Norte, São José não se distingue apenas pelo perfil de uma das manda-chuvas da política local. A cidade foi emancipada em 1997 da vizinha Brejo do Cruz, nacionalmente conhecida pela música de Chico Buarque “Brejo da Cruz”, “onde as crianças se alimentam de luz”, conforme o compositor descreveu a fome na canção em homenagem ao músico Zé Ramalho, o filho mais ilustre da cidade. São José tem apenas 1.800 habitantes.
Uma disputa para o Executivo municipal só com mulheres ocorre apenas em outros 38 municípios brasileiros, segundo dados do TSE — menos de 1% das cidades do país.
O aumento de mulheres na disputa é atribuído a uma regra eleitoral que vale para todos os municípios: a obrigação dos partidos de lançar no mínimo 30% de candidatos mulheres. A presidente da Câmara conta que muitas mulheres concorreram em eleições passadas só para cumprir a cota, mas que, neste ano, “um bocado vai concorrer mesmo”.
Ana Maria, a atual prefeita, conta com orgulho que tem seis mulheres secretárias e apenas quatro homens no primeiro escalão. A presença feminina na prefeitura é uma prioridade, afirma. Ela diz também ter incentivado as mulheres a se candidatarem.
“Sempre tenho motivado as mulheres a se candidatarem e lutarem por uma vaga na Câmara, porque existe essa carência, como é do conhecimento de todos”, disse a atual prefeita.
Uma questão presente nas eleições é a pobreza dos habitantes e dependência de São José. Em 2018, só 13,7% da população da cidade estava ocupada, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O salário médio dos trabalhadores formais era 1,8 salário mínimo.
Em 2015, o IBGE identificou que 95,7% das receitas da cidade eram de fontes externas. Os cidadãos dependem do dinheiro da própria prefeitura.
Kalinne Saraiva, candidata do DEM ao Executivo, vê algumas saídas: a pesca artesanal, incentivo a pequenas empresas como “estamparias, bonelarias, teares, fruticultura e horticultura” e, por fim, a produção de queijo coalho, especialidade da cidade.
“Vejo um futuro porque nasci e cresci vendo as pessoas sendo atendidas no sistema de saúde de Brejo do Cruz, quando éramos distrito, e hoje não é assim”, disse.