Brasil teve recorde da população abaixo da linha de pobreza em 2021, diz IBGE

O contingente de miseráveis também alcançou um pico de 8,4% da população do País

A redução no pagamento do Auxílio Emergencial em meio ao segundo ano de pandemia de covid-19 elevou a pobreza no País a níveis recordes. Em 2021, havia um ápice de 62,525 milhões de brasileiros abaixo da linha de pobreza, o equivalente a 29,4% da população sobrevivendo com menos de R$ 16,20 por dia, segundo os dados da Síntese dos Indicadores Sociais (SIS) divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira, 2.

O contingente de miseráveis também alcançou um pico de 8,4% da população do País, que estava estimada em 212,577 milhões de habitantes no ano passado: 17,858 milhões de brasileiros viviam em situação de pobreza extrema, sobrevivendo com menos de R$ 5,60 por dia.

Na passagem de 2020 para 2021, ano mais mortal da pandemia, o Brasil viu crescer em 11,5 milhões o total de pessoas vivendo na pobreza, um aumento de 22,7%. O contingente de miseráveis foi engrossado em mais 5,8 milhões de habitantes em apenas um ano, um salto de 48,2%.

“A redução dos valores e abrangência e aumento dos critérios para concessão do Auxílio Emergencial, em 2021, provavelmente tiveram impactos sobre o aumento da extrema pobreza e da pobreza neste último ano”, apontou o estudo do IBGE, lembrando que os programas emergenciais de transferência de renda tiveram importante papel na redução da pobreza e da desigualdade em 2020. “Adiciona-se a esta dinâmica a ausência de uma recuperação efetiva do mercado de trabalho em 2021 (…) que teve efeitos significativos sobre o rendimento dos domicílios, em especial dos mais pobres.”

Sem os pagamentos de benefícios de programas sociais, a proporção de pobres subiria a 32,5% da população brasileira em 2021, enquanto a de miseráveis alcançaria 12,2%.

Pelos critérios dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas e recomendações do Banco Mundial, a pobreza extrema é caracterizada por uma renda familiar per capita disponível inferior a US$ 1,90 por dia, o equivalente a um rendimento médio mensal de R$ 168 por pessoa em 2021, na conversão pelo método de Paridade de Poder de Compra (PPC) – que não leva em conta a cotação da taxa de câmbio de mercado, mas o valor necessário para comprar a mesma quantidade de bens e serviços no mercado interno de cada país em comparação com o mercado nos Estados Unidos.

Já a população que vive abaixo da linha de pobreza é aquela com renda disponível de US$ 5,50 por dia, o equivalente a R$ 486 mensais por pessoa em 2021. A série histórica da pesquisa do IBGE, que usa dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), teve início em 2012.

Mais pobres pretos do que brancos

Além da faixa etária, a questão racial também indica vulnerabilidade. Entre os brasileiros pretos e pardos, 37,7% viviam em situação de pobreza em 2021, mais que o dobro da proporção de brancos (18,6%) nessa situação.

No grupo de negros, 11,0% estavam sobrevivendo em condição de pobreza extrema, enquanto que entre os brancos essa incidência era reduzida pela metade (5% de miseráveis no grupo de brancos).

Crianças mais vulneráveis

Em 2021, a proporção de crianças menores de 14 anos abaixo da linha de pobreza chegou a um auge de 46,2%. Embora a população nessa faixa etária tenha registrado ligeira redução no País, o contingente vivendo em situação de pobreza subiu a 20,314 milhões, um aumento de quase 19,3% em relação a 2020, 3,283 milhões de crianças pobres a mais em apenas um ano.

A proporção de crianças brasileiras vivendo em situação de pobreza extrema foi de 13,4% em 2021, também recorde na série histórica.

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