O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) escolheu o delegado federal Luiz Fernando Corrêa como novo diretor-geral da Abin (Agência Brasileira de Inteligência).
O nome de Corrêa, ex-diretor-geral da Polícia Federal no segundo governo de Lula, foi publicado no Diário Oficial da União desta sexta (3) e será analisado pelo Senado Federal antes da nomeação.
A confirmação da escolha de Corrêa se dá um dia após governo oficializar a transferência da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) para a Casa Civil, retirando-a da responsabilidade de militares.
A mudança começou a ser gestada ainda durante a transição de governo e teve como origem a desconfiança dos petistas em relação aos militares do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), então chefiado pelo general Augusto Heleno, um dos mais próximos aliados de Jair Bolsonaro (PL).
A desconfiança levou Lula, ainda no primeiro dia após a posse, a editar uma medida tirando a segurança presidencial do GSI.
A Abin é responsável por assessorar o presidente da República por meio da produção de conteúdo de inteligência sobre temas estratégicos internos e externos.
Embora os servidores da Abin estejam satisfeitos com o novo governo uma vez que a ida da estrutura do órgão para o controle civil era uma demanda antiga, a indicação de Corrêa é vista como uma derrota.
Os servidores da Abin sempre defenderam a nomeação de oficiais da própria agência para a direção-geral e criticam a indicação de policiais federais para o cargo, como tem ocorrido na maioria dos últimos governos.
Eles citam, segundo a Folha apurou, que a equipe de transição responsável pelo tema chegou a indicar no relatório final a ida para a Casa Civil e a escolha de um servidor do órgão para o comando como sugestões.
Corrêa, após aprovação no Senado, vai assumir a Abin em um momento de tensão, após a agência ser envolvida em momentos de crise do governo Bolsonaro.
O principal diretor da agência na gestão do ex-presidente foi o delegado e atual deputado federal Alexandre Ramagem, ex-segurança pessoal de Bolsonaro na campanha eleitoral de 2018 e amigo da família Bolsonaro.
Uma investigação da PF mostrou como a Abin foi um dos órgãos públicos utilizados por Bolsonaro para levantar suspeitas contra a segurança das urnas eletrônicas.
Outro inquérito da PF apontou para a agência atuando com o objetivo de atrapalhar as investigações sobre Jair Renan, filho de Bolsonaro.
O delegado federal também assumiu o comando da PF, no final de 2007, quando a corporação passava por crises decorrentes das primeiras grandes operações realizados no primeiro governo Lula, entre elas a Satiagraha, que investiu contra o banqueiro Daniel Dantas.
Ele substituiu Paulo Lacerda e fez uma série de mudanças que resultaram na saída de delegados mais velhos de cargos de chefia.
À época, a escolha de Corrêa era vista como uma forma de paralisar as investigações que vinham criando problemas para o governo federal.
Em entrevista à Folha de S.Paulo após ser substituído do cargo, em 2011, o delegado disse que o contexto da época justificava a preocupação, mas que sua gestão atuou no sentido de melhorar a qualidade das provas dessas investigações.
“O desafio é ter uma prova robusta e observar estritamente a Constituição no que se refere aos direitos individuais. Continuamos com as operações. Diminuímos a visibilidade, mas passamos a ter um objetivo, que é buscar pelo conteúdo e pelo resultado das investigações”, afirmou.