Paraíba registra 68 mortes violentas de LGBTI+ nos últimos seis anos

Esta quarta-feira (17) marca o Dia Internacional de Combate à Homofobia

A vida de Sheila foi interrompida aos 27 anos. O corpo da mulher trans foi encontrado no quarto de uma pousada na Rua da República, no Centro de João Pessoa. A vítima assassinada por asfixia teve o corpo deixado debaixo da cama, em novembro de 2020. O suspeito do crime nunca foi preso. Sheila é uma das 68 vítimas de assassinato entre o público LGBTQIAPNb+, na Paraíba, nos últimos seis anos.

À época do homicídio, a tia da vítima contou que a jovem já havia sido agredida várias vezes, vítima de preconceito. A família ficava preocupada com a saúde e segurança dela. “Infelizmente o preconceito se generaliza a cada dia, cresce mais a cada dia. Paulo [Sheila] sempre foi perseguido e às vezes chegava em casa com hematomas“, revelou.

Dados fornecidos ao Portal T5 pelo governo da Paraíba. (Imagem: Portal T5)

 

Entre 2017 e 2022, 68 assassinatos foram registrados entre as cidades da Paraíba. Um levantamento do governo da Paraíba cedido ao Portal T5 aponta que 25 municípios anotaram mortes violentas de LGBTQIAPNb+. O destaque é para João Pessoa. No recorte dos últimos seis anos, foram registrados 29 casos na capital. Na sequência, Campina Grande e Santa Rita constataram 5 casos cada.

Número de mortes de pessoas LGBTI+ subiu 33,3% em um ano. (Foto: Arquivo/Agência Brasil)

 

Jovens morrem mais

Mais de 41% das pessoas da comunidade LGBTQIAPNb+ assassinadas de 2020 a 2022 tinham entre 25 e 39 anos de idade. Além disso, 24% dos casos tiveram a faixa etária ignorada pelas fontes utilizadas no levantamento.

No recorte de sexualidade, os homossexuais sofreram 66% das mortes, seguido dos bissexuais, com 6%. Contudo, em 31% dos casos foi ignorada a sexualidade, o que mostra uma subnotificação na análise dos dados.

A intolerância e o preconceito contra pessoas LGBTQIAPNb+ chegam de várias formas e lugares. No caso de Sheila, a violência estava disfarçada de amor. Ela vivia em um relacionamento abusivo.

De acordo com a Polícia Civil, o suspeito do crime é o homem que mantinha um relacionamento com a vítima. No dia do homicídio, testemunhas afirmaram que Sheila chegou à pousada durante a madrugada acompanhada por ele, que deixou o local 20 minutos depois do check-in.

Polícia é responsável pela investigação de assassinatos na PB. (Foto: Divulgação/Polícia Civil da Paraíba)

 

Um dia após o assassinato a tia da jovem descreveu como a vítima afastou-se da família.

“Tem mais de dois meses que esse companheiro dele não deixava ele sair, assim foi passado para nós. Ele voltava para casa, passava três ou quatro dias e sempre retornava. Daí por diante ele não voltou mais, tem uns dois meses. Ele estava como se fosse preso em casa porque o companheiro não deixava ele sair e fazia ameaças constantes a ele”.

Ao Portal T5, a delegada Luísa Correia, da Delegacia de Homicídios, disse que o suspeito do crime foi indiciado e denunciado pelo Ministério Público, mas ainda segue foragido.

Locais de acolhimento

Tendo conhecimento desses dados, o governo oferece locais de acolhimento específicos para esse público. A Secretaria da Mulher tem atendimento da população LGBTQIAPNb+ nos equipamentos de média complexidade que são os centros estaduais de referência, nos Espaços LGBT de João Pessoa, que fica na rua Rodrigues de Aquino, no Centro. E em Campina Grande, que é localizado na rua Pedro I.

Manifestantes em beijaço contra homofobia após agressão de jovens em bar. (Foto: Arquivo/Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

 

Dia de combate à homofobia 

Esta quarta-feira (17) marca o Dia Internacional de Combate à Homofobia. A escolha dessa data ocorreu após, nesse mesmo dia, em 1990, a Organização Mundial da Saúde (OMS), retirar oficialmente a homossexualidade de sua lista internacional de transtornos mentais, possibilitando um grande avanço na luta pelos direitos civis e a luta por mais dignidade.

A denúncia é uma das principais formas de combater a homofobia e os crimes de ódio. A Paraíba disponibiliza números e lugares para que seja feita; confira:

– Delegacia Especializada Contra Crimes Homofóbicos

R. Francisca Moura,36, Centro. João Pessoa

Fone: (83) 3214-3224

– Núcleo de Combate a Crimes Homofóbicos da Defensoria Pública da Paraíba

Avenida Rodrigues de Carvalho, nº 34, Edifício Félix Cahino, Centro de João Pessoa.

Fone: (83) 3218-4503

– Centro Estadual de Referência dos Direitos de LGBT e Enfrentamento à LGBTfobia da Paraíba – Espaço LGBT

Praça Dom Adauto,58, Centro, João Pessoa

Fone: (83) 3221-2118

Telefones para denúncia:

– Disque 100

– Disque 197 – LGBT Estadual

– Disque 190 – Polícia Militar

– Corregedoria da Polícia – (83) 3221-2062 / 3221-2075

– Ouvidoria – 180

*Com supervisão de Dennison Vasconcelos

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