O fim da escala de trabalho 6×1, em que trabalhadores atuam seis dias por semana e têm apenas um de folga, tornou-se um tema de amplo debate no Brasil. Recentemente, o assunto ganhou destaque nas redes sociais e motivou a apresentação de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) pela deputada Erika Hilton (PSOL-SP), que sugere a adoção de uma jornada semanal de 36 horas, distribuídas em quatro dias.
Apoio popular e dados da pesquisa Datafolha
De acordo com uma pesquisa realizada pelo Datafolha nos dias 12 e 13 de dezembro, 64% dos brasileiros apoiam o fim da escala 6×1, enquanto 33% se opõem à mudança e 3% não souberam opinar. Entre os entrevistados, 70% defendem uma jornada de cinco dias por semana, 17% preferem mantê-la em seis dias e 7% sugerem quatro dias. A maioria, 82%, considera ideal uma jornada diária máxima de oito horas, com apenas 7% apoiando jornadas de até 12 horas.
Diferenças entre gênero, idade e renda
A pesquisa também revelou disparidades significativas entre diferentes grupos:
- Gênero: 70% das mulheres apoiam a redução, enquanto 40% dos homens são contrários.
- Faixa etária: Jovens entre 16 e 24 anos mostraram maior apoio à redução (81%), enquanto 48% dos entrevistados com 60 anos ou mais se posicionaram contra.
- Renda: Entre os que ganham até dois salários mínimos (R$ 2.824), 68% apoiam a mudança, mas 43% dos que recebem mais de cinco salários mínimos (R$ 7.060) são contrários.
Impacto no desenvolvimento social e econômico
Especialistas apontam que a redução da jornada pode trazer benefícios, como mais tempo para convívio familiar e lazer, fatores que contribuem para o desenvolvimento infantil e, a longo prazo, podem aumentar a produtividade. “É razoável adotar uma escala 5×2, com jornadas de oito horas e duas folgas semanais”, afirmou Naercio Menezes Filho, do Insper.
Por outro lado, há preocupações sobre o impacto econômico. Fernando de Holanda Barbosa Filho, do FGV Ibre, alerta que empresas menores podem ter dificuldade para absorver os custos adicionais, o que poderia resultar em fechamento de negócios ou demissões. Ele também destaca que trabalhadores do comércio, que dependem de comissões, podem sofrer perdas financeiras com menos horas de trabalho.
Perspectivas legais e políticas
A pesquisa Datafolha mostrou que 58% dos entrevistados defendem que a jornada máxima seja definida por lei, enquanto 39% preferem que ela seja negociada entre patrões e empregados. O tema, incomum por sua capacidade de unir posições divergentes, é apoiado por 73% dos eleitores do presidente Lula (PT) e também por 53% dos eleitores de Jair Bolsonaro (PL).
Especialistas como Clemente Ganz Lúcio, do Dieese, sugerem que a transição para uma jornada reduzida seja gradual, com reduções anuais, permitindo que empresas se ajustem. “É importante considerar as diferenças entre setores e empresas para evitar efeitos indesejáveis”, conclui Barbosa Filho.
O debate segue polarizado, mas com forte adesão popular, abrindo caminho para discussões aprofundadas sobre produtividade, qualidade de vida e viabilidade econômica.