Após retornar de uma agenda internacional na Rússia, China e Uruguai, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se depara com uma grave crise interna, impulsionada pelo escândalo dos descontos ilegais em aposentadorias e pensões do INSS e o risco de instalação de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) no Congresso. O episódio agravou os atritos dentro do governo e expôs fragilidades na articulação da base aliada, em um momento em que o Palácio do Planalto busca reverter a queda de popularidade da gestão.
Além das consequências políticas do escândalo envolvendo o INSS, a viagem presidencial ficou marcada por um vazamento de uma conversa entre Lula, a primeira-dama Janja e o líder chinês Xi Jinping, sobre o TikTok. O episódio gerou desconforto e acirrou o clima de desconfiança no núcleo do governo. Segundo relatos, Lula demonstrou irritação com o vazamento, chegou a proibir que membros da comitiva desembarcassem na escala da viagem na Rússia e teria confrontado ministros durante o voo de volta.
O ministro da Casa Civil, Rui Costa, foi citado como o principal suspeito pelo vazamento da conversa e, segundo integrantes da comitiva, expressou desconforto ao afirmar que enfrenta críticas não apenas da oposição, mas também de aliados. O desgaste se somou às divergências públicas entre Rui Costa e o ministro da CGU, Vinícius de Carvalho, sobre a condução das investigações no INSS. Em entrevista, Costa questionou a atuação da CGU, o que gerou mal-estar interno.
Em resposta, Carvalho defendeu os procedimentos da Controladoria e afirmou que o governo Lula tem sido firme no combate a fraudes. “Vivemos um momento em que algumas informações são tratadas de forma inadequada para gerar desinformação“, declarou.
Enquanto isso, o Congresso Nacional avança com articulações para instalar a CPMI do INSS, mesmo com a resistência do Planalto. Há preocupação de que a comissão, caso instalada, seja dominada pela oposição e paralise pautas prioritárias do Executivo, como a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil.
Diante da pressão, Lula se reuniu na sexta-feira (16) com ministros do núcleo político — Rui Costa (Casa Civil), Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais), Sidônio Palmeira (Secom) — e o ministro da Previdência, Wolney Queiroz, além do líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA). A estratégia do governo é tentar ocupar espaços de comando na CPMI e ampliar o escopo da investigação para incluir gestões anteriores, principalmente a de Jair Bolsonaro (PL).
Além da instabilidade política, há insatisfação entre partidos do centrão, que criticam o pagamento de emendas, a falta de propostas concretas e as trocas ministeriais promovidas por Lula. Um dos pontos de maior resistência é a possível nomeação do deputado Guilherme Boulos (PSOL-SP) para a Secretaria-Geral da Presidência, no lugar de Márcio Macêdo (PT). O movimento é interpretado por líderes do centrão como um afago à esquerda, o que aumentaria a pressão por um eventual distanciamento da base governista.
O cenário impõe a Lula o desafio de recompor a base, conter danos e recuperar a imagem do governo, em meio a uma série de crises simultâneas e sinais de fragilidade no núcleo de articulação política do Palácio do Planalto.