Dólar sobe e bolsa recua com investidores atentos ao cenário fiscal dos EUA e à política monetária no Brasil

Mesmo assim, o mercado opera com volatilidade e tendência de acomodação, após os movimentos mais intensos registrados no início da semana.

O dólar opera em alta nesta terça-feira (20), com investidores atentos às políticas comerciais e fiscais dos Estados Unidos. Às 15h24, a moeda norte-americana registrava avanço de 0,32%, cotada a R$ 5,672, enquanto a Bolsa de Valores (B3) recuava 0,19%, a 139.360 pontos.

Em um dia de agenda econômica esvaziada, o mercado volta a se concentrar nas preocupações que vêm dominando as negociações nas últimas semanas, especialmente as discussões sobre acordos tarifários dos EUA e os riscos fiscais da economia norte-americana.

O presidente Donald Trump sinalizou que, nas próximas duas ou três semanas, devem ocorrer novas definições sobre as sobretaxas de importação. Segundo ele, o secretário do Tesouro, Scott Bessent, e o secretário de Comércio, Howard Lutnick, enviarão cartas informando às nações o que elas pagarão para fazer negócios nos Estados Unidos”.

Trump afirmou que pretende ser justo nas negociações, mas reconheceu a dificuldade de atender a todos os interessados. “São 150 países que querem fazer um acordo”, declarou, sem especificar quais nações estão na lista.

O discurso representa um afastamento do tom mais agressivo adotado no início de abril, quando Trump anunciou tarifas recíprocas, provocando temores de recessão global e instabilidade nos mercados. Na ocasião, com a forte queda das bolsas em Wall Street, a desvalorização do dólar e o aumento da desconfiança sobre o Tesouro americano, o presidente decidiu suspender temporariamente o tarifaço por 90 dias para ganhar tempo nas negociações.

Atualmente, os EUA mantêm conversas comerciais com países como Japão, Coreia do Sul, Índia e União Europeia. Um acordo recente com o Reino Unido e uma trégua tarifária temporária com a China também foram firmados. Trump afirmou ainda que a Índia teria oferecido eliminar tarifas sobre produtos americanos, algo que não foi confirmado por Nova Delhi.

O tarifaço foi inicialmente defendido como uma medida para reduzir o déficit público dos EUA, mas a tramitação de um projeto de extensão dos cortes de impostos de 2017, caso aprovado, deverá aumentar significativamente a dívida pública americana.

Na última sexta-feira (17), a agência de classificação de risco Moody’s rebaixou a nota de crédito dos EUA, de Aaa para Aa1, citando que o déficit federal poderá chegar a quase 9% do PIB até 2035, impulsionado pelo aumento dos gastos com juros da dívida, despesas obrigatórias e baixa arrecadação.

O rebaixamento intensificou as preocupações fiscais, levando investidores a reverem posições no dólar e nos títulos do Tesouro americano (treasuries). “A fuga de ativos norte-americanos beneficiou praticamente todos os ativos de risco ontem”, avalia Leonel Mattos, analista da StoneX.

No cenário doméstico, o foco se volta para a política monetária do Banco Central (BC). O presidente do BC, Gabriel Galípolo, se reúne nesta tarde com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o que gera expectativas no mercado.

Na segunda-feira (19), Galípolo afirmou que o Copom (Comitê de Política Monetária) tomará decisões futuras com base nos dados sobre atividade econômica e inflação. “Faz sentido que os juros fiquem em um patamar restritivo por mais tempo. Agora o momento é de pensar como vamos reagir, e não o que vamos fazer”, disse.

A sinalização de que os juros devem permanecer elevados no Brasil por mais tempo sustenta a percepção de que o diferencial de juros entre Brasil e outros países segue favorável ao real, o que pode gerar entrada de capital estrangeiro e fortalecer a moeda brasileira.

Mesmo assim, o mercado opera com volatilidade e tendência de acomodação, após os movimentos mais intensos registrados no início da semana.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui