Diante da decisão do ex-presidente dos EUA, Donald Trump, de aplicar uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, o governo Lula (PT) prepara uma ampla resposta política, diplomática e de comunicação. A medida americana, que foi celebrada por bolsonaristas e apresentada como retaliação às decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) contra Jair Bolsonaro, servirá como mote para o Palácio do Planalto reforçar o discurso de soberania nacional e combate às injustiças sociais.
A estratégia do governo inclui maior exposição pública de Lula, com concessão de entrevistas, participação em campanhas midiáticas e aproximação com setores empresariais e do agronegócio. Um vídeo institucional já circula com o tema da soberania nacional, associando a postura de Trump a uma ameaça à democracia e à economia brasileira. A peça conta com a assinatura “Governo do Brasil” e até uma fala em inglês: “My friend, aqui quem manda é a gente. O Brasil é dos brasileiros”.
A ofensiva tem como objetivo associar Trump, Bolsonaro e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), como representantes de um mesmo campo político que, segundo o governo, ameaça os interesses econômicos e institucionais do país.
Tarifa como oportunidade política
Apesar das implicações econômicas negativas da tarifa, o Planalto enxerga o episódio como uma oportunidade para reforçar seu discurso contra privilégios e ampliar o alcance da agenda de justiça social. A Secretaria de Comunicação (Secom), comandada por Sidônio Palmeira, orientou ministérios a repassar ações de combate à desigualdade para compor a nova campanha. Também pediu que divulguem em seus sites conteúdos sobre o ressarcimento de aposentados prejudicados por descontos indevidos no INSS.
Lula já começou a colocar o plano em prática ao conceder entrevistas às TVs Globo e Record, onde reforçou a defesa da soberania nacional e instou Trump a respeitar o sistema de Justiça brasileiro. Internamente, o presidente tem sido incentivado a dialogar mais com empresários e representantes do agronegócio, setores que podem ser impactados pela decisão americana. O vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) deve liderar essa interlocução.
Resposta coordenada e institucional
Durante reunião com ministros no Palácio do Planalto, chegou a ser sugerido que o Itamaraty conduzisse a resposta à medida de Trump. No entanto, prevaleceu o entendimento de que a tarifa foi uma agressão política às instituições brasileiras, e que o presidente deveria liderar a reação.
O governo descartou, por ora, um pronunciamento em cadeia nacional, mas já iniciou a articulação de reuniões com o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (Conselhão) e com governadores, a fim de avaliar os impactos da medida nas economias estaduais.
Bolsonarismo no foco
A carta de Trump, que acusou o Judiciário brasileiro de perseguir Bolsonaro, foi vista pelo governo como um movimento coordenado para enfraquecer instituições brasileiras. O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) reforçou a narrativa ao condicionar a retirada das tarifas a uma “anistia ampla” aos réus do 8 de janeiro.
A reação bolsonarista fortaleceu a estratégia do Planalto de vincular a ação americana a interesses antidemocráticos e à tentativa de desestabilização institucional. A ideia é apresentar Lula como defensor da soberania e das instituições, diante de uma suposta conspiração externa apoiada pela direita brasileira.
Com isso, o governo se prepara para um embate de longo prazo, mirando tanto a agenda econômica quanto a disputa política de 2026.