Uma nova pesquisa do Instituto Ranking PB (IRPB), em parceria com o Grupo Prospecta, revelou que a zona leste de João Pessoa, composta pelos bairros Altiplano, Cabo Branco e Portal do Sol, se consolidou como o principal eixo de qualificação urbana, expansão imobiliária e concentração de renda da capital paraibana.
Segundo o levantamento, a região — chamada de Zona 2 — passou de 26,6 mil moradores em 2010 para 41,3 mil em 2024, um crescimento populacional de 55,51% em pouco mais de uma década. A densidade demográfica também aumentou significativamente, saltando de 23,69 para 36,84 habitantes por hectare.
Renda média e padrão de moradia acima da média
A pesquisa revela ainda que a região reúne 15.250 domicílios, com uma renda média familiar mensal de R$ 24.396, valor muito superior à média de João Pessoa. Dentro desse universo, há:
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4 domicílios classificados como estrato AAA (renda acima de R$ 254 mil/mês);
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99 domicílios no estrato AA (entre R$ 112 mil e R$ 254 mil/mês);
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3.560 domicílios no estrato A (de R$ 28 mil a R$ 112 mil/mês).
Juntos, os segmentos de alta renda movimentam cerca de R$ 221 milhões por mês em renda bruta familiar, tornando a região um polo de interesse para o mercado imobiliário, gestores públicos e urbanistas.
Desenvolvimento estruturado e com espaço para crescimento
De acordo com o presidente do IRPB, Alisson Holanda, também diretor de Expansão do Creci-PB e membro do Sinduscon, os dados comprovam a percepção do mercado. “É onde a renda de alto padrão se concentra, onde o crescimento populacional corre mais rápido e onde o adensamento ainda tem espaço para ocorrer com qualidade urbana”, declarou.
Holanda reforça que o maior desafio agora é garantir planejamento urbano coordenado, para que o crescimento não aconteça de forma desordenada.
Urbanismo, arquitetura e nova linguagem para a cidade
A urbanista Sandra Moura, referência em planejamento arquitetônico na capital, aponta que a expansão para o litoral sul, por meio do eixo Altiplano–Portal do Sol, representa uma virada histórica na lógica de crescimento urbano de João Pessoa. Segundo ela, o município deixou de priorizar o litoral norte e encontrou nessa região menos barreiras ambientais e mais condições para grandes projetos.
Sandra ressalta a importância da qualidade de vida no espaço público. Ela defende que o planejamento urbano valorize o pedestre e o convívio social, e que a verticalização seja feita de forma controlada e sustentável, com:
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uso misto dos empreendimentos,
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fachadas ativas,
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ventilação cruzada,
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sombreamento com vegetação local,
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uso de energia solar,
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e paisagismo ecológico.
Para ela, o eixo Altiplano–Portal do Sol tem papel simbólico na construção de uma identidade arquitetônica própria para João Pessoa, reforçando sua condição de “capital verde” e cidade com alta qualidade de vida.
Oportunidade e risco: como a alta renda molda a cidade
A concentração de renda nas classes A, AA e AAA na Zona 2 também levanta alertas. Segundo Sandra Moura, a pressão por segurança e exclusividade molda uma paisagem urbana que tende a privilegiar o privado sobre o público. Ela defende o uso de instrumentos de inclusão para mitigar riscos de segregação urbana.
Alisson Holanda concorda. Para ele, o poder de compra desse público é capaz de sustentar empreendimentos de alto padrão, escolas, clínicas e serviços sofisticados, mas adverte: “Se esse ecossistema for desenhado apenas para dentro dos condomínios, criaremos ilhas de excelência isoladas. Precisamos transformar esse ciclo de riqueza em mais integração urbana, espaço público qualificado e oportunidades acessíveis a todos”.




