Aos sete anos de idade, a paraibana Glaucia Sayers teve a primeira experiência com o universo da moda e da produção artesanal. Com a delicadeza dos gestos de criança, bordou um lenço em tecido de algodão cru. Passados mais de 50 anos, os retalhos de momentos vividos na infância remetem à mudança profissional que ela protagonizou quase aos 60 anos. Trabalhar com moda, que nem estava em seus sonhos, se tornou realidade para ela na Europa.
Nascida em Pedra Lavrada, no interior do estado, ela se mudou aos 11 anos para Campina Grande. Na cidade, localizada no Agreste do estado, ela se formou em fisioterapia na Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). A escolha do curso foi guiada pelos conselhos dos pais, que a incentivaram a trabalhar na área de saúde. Na época, o que Glaucia não sabia ainda é que seguiria os passos da mãe que costurava horas a fio para a família.
A paraibana casou e partiu para a Europa no ano de 1984. Para acompanhar o marido, ela abriu mão da carreira de fisioterapeuta, com o último trabalho realizado há 24 anos. Morou em nove países e, atualmente, vive na Inglaterra. Ela viajou pelo mundo, aprendeu novas línguas e conheceu novas culturas. Além de cidadania britânica, também um coração que pulsa forte pelas raízes nordestinas.
“Me tornei uma aprendiz de moda aos 56 anos. Há quem ache que uma mudança de vida aos 60 anos possa ser uma curva íngreme de aprendizado. Mas nada se alcança sem um desafio, quer seja na sua vida privada ou profissional, seu controle é ilimitado e sua força sempre estará na procura”, destacou.
Glaucia estudou moda no “Fashion Into the Industry”, do Serviço de Educação de Adultos de Westminster, de Londres. A essência paraibana marcou a conclusão do curso. O trabalho final dela foi a criação de uma coleção de peças produzidas com algodão colorido, produzido na Paraíba, e utilizado pela Natural Cotton Colour, empresa liderada pela CEO Francisca Vieira, que forneceu matéria-prima para o projeto.
Paraibana aprende nova profissão aos 56 anos e lança coleção com peças de algodão colorido na Europa — Foto: Glaucia Sayers/Arquivo pessoal
“Criei a ideia de uma coleção nativa, com cheiro de algodão colorido para vestir com a simplicidade de ser natural, pura e sustentável […]. Pra mim foi o máximo de desafio, o que me levou a seis semanas de trabalho feito à mão”, explicou.
Atualmente, ela cria produtos para a própria loja online. No site, não são vendidas apenas roupas. “Eu nunca pensei em criar moda, mas tudo na vida tem uma razão de ser. E é bom mudar, construir e procurar ser feliz. Na verdade, não me considero uma designer, sou uma eterna aprendiz, estudo, pesquiso e crio”, reforçou.
Trabalho de Glaucia é voltado para a sustentabilidade
O trabalho desenvolvido por Glaucia é centrado na ética ecológica de produtos naturais. No processo de criação, ela visualiza as peças desde a escolha dos materiais sustentáveis. Cada passo garante o estilo dela no mundo da moda.
“Sempre fui adepta à relação do homem com a natureza e os animais. Venho de uma geração que viveu sem precisar de aditivos sintéticos para me vestir. Me acostumei com a forma simples de cultivar, produzir e usar. Assim como plantar e colher. Baseada neste princípio eu existo”, ponderou.
Focada no trabalho que desenvolve, ela espera que esta e as próximas gerações sejam mais conscientes e contribuam ecologicamente para o futuro do meio ambiente, como um todo.
Trabalho de Glaucia é voltado para a consciência ecológica — Foto: Glaucia Sayers/Arquivo pessoal
Mudança na carreira aconteceu após a recuperação de um câncer
Em 2007, enquanto morava em Abu Dhabi, Glaucia foi diagnosticada com câncer de mama. Um desafio que não só foi vencido por ela, mas que a fez valorizar o que considera ser mais importante.
“A Experiência me impulsionou para querer viver e priorizar todos os êxitos. Meus filhos minha família, meus amigos e minha Fé em Deus. Daí que não me faltou nada para seguir em frente. Só a vontade de viver já me incentivou pra ser quem eu sou”, pontuou.
Desde que se curou, ela assumiu o propósito de se reconectar ao instinto natural e de motivar outras pessoas a fazem o mesmo. Por isso, nos momentos de folga ela atua como consultora de em uma agência de saúde aposentados em Londres.
“Um novo começo. Outro capítulo na minha vida”, considerou.
Trabalho de Glaucia virou negócio de família
Glaucia é mãe de quatro filhos adultos. Com o auxílio dos filhos, ela impulsiona o negócio que fundou. “Formamos um time”, ressaltou. Como estilista, ela cria e desenvolve as ideias que ganham forma por meio do trabalho manual.
A filha Rhalina é engenheira de projetos e nas horas vagas atua como co-fundadora e fica responsável pela administração, marketing, comunicação com clientes, técnica de compra e vendas, atualizações de mercado. “Ela também é uma excepcional artesã promovendo a consciência sustentável do produto”, enalteceu a mãe.
A outra filha, Camila, contribui com a loja online como blogueira. Já os filhos Alex e Michael participaram como modelos em desfiles. Eles também colaboram com com a edição de mídias e fotografias.
Algodão colorido produzido na Paraíba alcança mercado internacional
Responsável por tornar Campina Grande conhecida como a Liverpool brasileira nos anos de 1940, o algodão se foi propulsor da economia no Agreste do estado. Também conhecido como “algodão ecologicamente correto”, o produto ganhou o mundo e chegou ao mercado internacional. O tecido produzido com o material é sustentável e chama a atenção para a responsabilidade socioambiental.
O algodão colorido passou por pelo menos 20 anos de melhoramento genético na Embrapa Algodão para que pudesse ser utilizado na indústria têxtil. As tonalidades passeiam pelas variedades das cores verde , marrom e tons avermelhados.
Brasil tem 7,7 milhões de trabalhadores idosos
Conforme e Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) trimestral do IBGE, o Brasil possui cerca de 7,7 milhões de trabalhadores com 60 anos ou mais que atuam no mercado de trabalho.
A presença de idosos no em atuação profissional cresceu nos últimos anos. Acompanhando o envelhecimento do país, no primeiro trimestre de 2012, o país tinha 5,5 milhões de idosos ocupados.