A embaixada da Rússia em Cabul, capital do Afeganistão, disse hoje que o presidente do país, Ashraf Ghani, fugiu do território com quatro carros e um helicóptero cheio de dinheiro, mas uma parte do valor ficou no asfalto, pois não caberia tudo na aeronave, segundo a agência estatal russa RIA. Ainda não foi confirmada a veracidade da acusação.
De acordo com a rede televisiva Al Jazeera, Ghani teria dito na rede social: “O Taleban venceu… e agora são responsáveis e autopreservação de seus compatriotas”. O paradeiro do presidente afegão é desconhecido no momento, mas a mídia acredita que ele tenha se refugiado no Uzbequistão.
O país governado por Vladimir Putin afirmou que seguirá com a presença diplomática no Afeganistão, ao contrário de outros países que estão correndo para retirar diplomatas e cidadãos do país.
A Rússia ainda declarou que deseja criar laços com o Taleban, mas informou que não tem pressa para reconhecer o grupo como governantes do Afeganistão e que estará atento as decisões tomadas pelo movimento.
“Quanto ao colapso do regime [de saída], é mais eloquentemente caracterizado pela forma como Ghani fugiu do Afeganistão”, disse Nikita Ishchenko, porta-voz da embaixada russa em Cabul, de acordo com a RIA.
E completou: “Quatro carros estavam cheios de dinheiro, eles tentaram enfiar outra parte do dinheiro em um helicóptero, mas nem tudo coube. E parte do dinheiro foi deixado no asfalto”.
Ischenko confirmou as informações à Reuters e alegou que obteve o relato da ação por “testemunhas”. Apesar da fala do porta-voz, não foi confirmado ainda a veracidade da acusação.
Já Zamir Kabulov, representante especial de Putin no país, afirmou à estação de rádio Ekho Moskvy de Moscou que não sabe exatamente quanto dinheiro Ghani teria deixado para trás durante a fuga.
“Espero que o governo que fugiu não tenha tirado todo o dinheiro do orçamento do estado. Será a base do orçamento se algo sobrar”, disse Kabulov.
O que é o Taleban?
A formação do Taleban remonta aos anos 90, quando mujahideens afegãos e guerrilheiros islâmicos se uniram para combater a ocupação soviética no Afeganistão. A própria CIA (Agência de Inteligência Central) dos Estados Unidos é apontada como uma das apoiadoras da formação do grupo na época.
Entre 1992 a 1996, os combatentes lutaram contra outros grupos mujahideens rivais, até a tomada de Cabul, do então presidente Burhanuddin Rabbani. A partir de então, o grupo controlou 90% do país até 2001.
A queda se deu na esteira dos atentados de 11 de setembro nos EUA. Na época, o governo americano enfrentava outro grupo extremista, a Al-Qaeda, do então líder Osama bin Laden.
Em 1999, o Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) adotou uma resolução que vinculou Al-Qaeda ao Taleban como entidades terroristas e impôs diversas sanções contra os grupos.
Em 11 de setembro de 2001, membros da Al-Qaeda sequestram quatro aviões, jogando dois no World Trade Center em Nova York, um no Pentágono em Washington DC e o último em um campo em Shanksville, na Pensilvânia.
O então presidente americano, George W. Bush, declarou “guerra ao terror”, prometendo caçar Osama bin Laden no Afeganistão. O republicano falou diretamente ao Taleban, ao pedir que o grupo “entregasse às autoridades dos Estados Unidos todos os líderes da Al-Qaeda que se escondem em sua terra”, ameaçando com “o mesmo destino” a eles, caso não o fizessem.
Suspeitando que o Taleban estivesse abrigando Bin Laden, forças americanas e britânicas bombardearam o país em outubro do mesmo ano. Logo em seguida, em uma incursão terrestre, forçaram a retirada dos talebans das grandes cidades. Bin Laden, no entanto, conseguiu fugir. A ONU convidou depois as principais facções afegãs para formarem um governo provisório.
O grupo se refugiou nas fronteiras do país com o Paquistão e passou os últimos 20 anos buscando formas de retomar o poder.