Guedes contraria dados e diz em Dubai que Brasil cresce ‘acima da média’

Embora o ministro tenha dito que o país cria empregos na crise sanitária, entre os mais pobres, o desemprego dobrou e a inflação disparou 40% na pandemia

Contrariando dados e projeções do mercado financeiro e de entidades como o FMI (Fundo Monetário Internacional), o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou nesta segunda-feira (15) a empresários em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, que o Brasil cresce “acima da média mundial”, e atribuiu o suposto bom desempenho ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

“O Brasil foi uma das economias que menos caíram, voltaram mais rápido, criaram mais empregos, e estamos crescendo, também, acima da média mundial”, afirmou Guedes na abertura do Fórum Invest in Brasil, evento que é parte da viagem oficial do presidente ao Oriente Médio.

“Isso, graças à orientação do nosso presidente de não deixar nenhum brasileiro para trás durante a pandemia”, disse.
Ainda segundo o ministro, o Brasil teve um bom desempenho econômico na pandemia e as reformas no país seguem em andamento.

O PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro caiu 4,1% em 2020, a pior queda em 24 anos. A queda foi menor do que a de países como México (-8,3%), Índia (-6,8%) e Colômbia (-6,8%), mas maior que a de outros, como Estados Unidos (-3,5%) e Coreia do Sul (-1%).

Em 2021, porém, as projeções para a economia foram piorando ao longo do tempo, com a aceleração da inflação, que já passa de 10% em 12 meses, o aumentos dos juros, os números altos de desemprego (13,2%) e o temor de descontrole das contas públicas, com o governo patrocinando projetos que acarretam em calote de dívidas e furo no teto de gastos.

No discurso, Guedes afirmou que o Brasil “está crescendo 5,5% este ano”.

A previsão de economistas ouvidos pelo Banco Central é que a economia brasileira cresça 4,93% em 2021. O FMI prevê crescimento de 5,2%, abaixo da estimativa para o crescimento global, de 5,9%, e para a América Latina e o Caribe, de 6,3%.

Se a previsão se confirmar, o Brasil ficará na última colocação entre os 19 países mais ricos do mundo e a União Europeia.

A expectativa, porém, é que a piora nos indicadores econômicos cobre seu preço em 2022. O FMI prevê alta de apenas 1,5% no Brasil no ano que vem, abaixo da previsão para o mundo, de 4,9%. Mas já há bancos estimando até que o Brasil registre recessão, com encolhimento de 0,5% no PIB.

Apesar de ter prometido grandes reformas, o governo Bolsonaro só conseguiu aprovar uma, a reforma da Previdência, ainda no primeiro ano de governo. Depois, encaminhou propostas como a reforma tributária e administrativa, que estão paradas no Congresso.

Ao dizer que os Emirados Árabes Unidos são “os sócios ideais” para o Brasil, Guedes citou o projeto de privatização do Porto de Santos (SP) e convidou investidores árabes a apostarem no país.

Embora o ministro tenha dito que o país cria empregos na crise sanitária, entre os mais pobres, o desemprego dobrou e a inflação disparou 40% na pandemia.

Guedes e Bolsonaro continuarão em viagem oficial pelo Oriente Médio até o final da semana, quando visitarão Bahrein e Catar em busca de investimentos internacionais.

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