A indigência do quadro de pré-candidatos à Prefeitura de João Pessoa e de outras cidades importantes da Paraíba decorre, sobretudo, da falta de renovação de lideranças.
Não é à toa que faltam líderes ou, pelo menos, nomes de considerável densidade eleitoral e representatividade política.
Tudo bem que, em parte, este problema decorre da ação nefasta da ditadura militar sobre a nossa vida política, em que o regime de exceção matou, esfolou, cassou ou baniu do país algumas das nossas maiores expressões políticas. E, convenhamos, reconstruir um quadro de lideranças depois de tamanha avaria, demanda anos de esforço.
Mas o principal fator a contribuir com a atual carência de novos talentos políticos foi a transformação dos partidos em “propriedades privadas” de velhos caciques. Os chamados “donos dos partidos”.
Estes verdadeiros donos dos partidos operam e manipulam as legendas em benefício dos seus projetos políticos pessoais e familiares. No máximo, quando já estão caindo pelas tabelas, passam o bastão para os seus herdeiros, quase sempre um parente em grau mais próximo possível. Estas velhas raposas da política com medo de dividir espaços não permitem de maneira nenhuma que jovens talentos ascendam à liderança às hostes de suas legendas.
Patrimônio
Na nossa política à moda brasileira praticamente não temos partidos verdadeiros, com perfil de instituição, com carta programática que não seja mera decoração etc. e tal. O que temos são legendas para os velhos caciques chamarem de suas, e delas fazerem uso até para negociatas políticas.
O mínimo
Até o PT, que é o que tem melhor perfil de partido político, deixou passar a chance de renovar seus quadros, tendo se preocupado, quase que exclusivamente, com a figura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que se tornou uma das maiores lideranças mundiais.
Aqui na Paraíba, o PT nunca teve um nome de grandeza suficiente para, por exemplo, disputar o Governo do Estado. Aliás, teve uma liderança construída em seus quadros, mas que não soube aproveitar forçando-o a trocar de legenda: Ricardo Vieira Coutinho.
Outro nome que se fez e cresceu nas hostes petistas, mas que terminou abandonando a legenda foi Luciano Cartaxo. Haveremos de convir, que duas ou três lideranças, se é que existe uma terceira, é muito pouco para um partido com 40 anos de existência, que esteve 16 anos na Presidência da República e fez uma histórica transformação social e econômica no país. O PT, no entanto, não se pode chamar partido de seu fulano.
Outras pequenas legendas, inclusive no campo da esquerda, como PCB e PC do B, são partidos orientados por ideologias consolidadas que não se prestam à condição de legenda de aluguel ou partido de seu fulano, mas também, não foram capazes de produzir lideranças no Estado. Quanto a estas, porém, não seria pra menos. Afinal, partido que carrega a palavra comunista em sua legenda, no Brasil sempre dói demonizado por uma campanha sistemática de queimação e também pela ignorância da maioria das pessoas.
Carimbadas
O que temos hoje, por exemplo, na disputa para Prefeito de João Pessoa: um monte de “cacarecos”; nomes de densidade eleitoral quase zero; o MDB, com todo o seu tamanho e história, lançando mão do neófito Nilvan Ferreira, que nunca foi testado nas urnas nem na sua terra natal, Cajazeiras; Cícero Lucena, ex-prefeito de João pessoa por duas vezes, que já havia se despedido da política a quase duas décadas, agora voltando ao cenário, quem sabe até estimulado pela carência de candidatos.
Ricardo Coutinho sempre lembrado e figurando bem em enquetes e pesquisas, mas continua uma incógnita. Afinal, não se sabe se deixarão ele elegível, ou não.
Resumo da ópera
O histórico MDB, outrora esteio da resistência à ditadura militar, que teve em suas hostes nomes como Humberto Lucena, Antônio Mariz, Ronaldo Cunha Lima, Pedro Gondim, João Agripino, Raimundo Asfora, Marcondes Gadelha, Vital do Rêgo, José Maranhão, Gervásio Maia, entre outros, hoje se agarra ao comunicador Nivan Ferreira, para disputar à maior prefeitura do Estado, por falta de quadros.
Registre-se: um dado historicamente ruim para o velho MDB de guerra, mas muito bom para o currículo de Nilvan que, na pior das hipóteses, terá o que mostrar, a quem interessar possa, que além de haver ocupado os mais nobres espaços da radiofonia paraibana, ainda emprestou seu nome para salvar o partido de Ulysses Guimarães do vexame de não ter um candidato com um mínimo respaldo popular, em João Pessoa.