A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) investiga se alimentos para humanos foram contaminados com monoetileglicol, substância que pode ter causado a morte de mais de 50 cães pelo Brasil.
A possibilidade foi levantada após o órgão descobrir que a empresa Tecno Clean vendeu parte dos dois lotes de propilenoglicol contaminados para outras fábricas, além da Bassar Pet Food, responsável pela produção dos petiscos que causaram a morte dos animais. As compradoras ainda não foram reveladas.
“As ações de vigilância sanitária estão focadas nas empresas com possível atividade na área de alimentos para consumo humano”, declarou a Anvisa. Apesar da investigação ainda estar em curso, o órgão federal afirma que, por ora, “não existem evidências de alimentos para consumo humano fabricados com lotes” contaminados. A agência, no entanto, vedou o uso do material contaminado e determinou o seu recolhimento.
O propilenoglicol é um solvente usado como umectante para manter a textura de alimentos embalados, como sopas, massas para bolos, pães e biscoitos. Ele evita que os produtos ressequem depois de abertos. A substância também é usada nas fábricas de alimentos para animais para manter a textura dos produtos. O monoetileglicol, por outro lado, é tóxico.
Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), os lotes AD5035C22 e AD4055C21, vendidos pela Tecno Clean, de Contagem, na Grande BH, estavam contaminados com monoetilenoglicol. Este é um dos dois anticongelantes tóxicos encontrados em cervejas contaminadas da Backer e que causaram a morte de ao menos 10 clientes da cervejaria mineira, em 2020. A substância provoca problemas renais e motores.
“Assim como a Tecno Clean, a empresa A&D também foi notificada pela Anvisa para prestar esclarecimentos sobre a origem e distribuição do produto”, pontuou a Agência Nacional de Vigilância Sanitária.
A Tecno Clean não esclareceu à reportagem quais fábricas também compraram os lotes contaminados. No início das investigações, a empresa ressaltou que não produz a substância e que a adquiriu da importadora A&D, de São Paulo. A reportagem procurou a A&D e aguarda retorno.
“Até o momento, as investigações ainda não determinaram a origem do aditivo utilizado”, destacou o Ministério da Agricultura. “O Mapa determinou que fabricantes de alimentos e mastigáveis indiquem os lotes de propilenoglicol existentes em seus estoques e seus respectivos fabricantes e importadores e realizem análises em produtos que contenham o propilenoglicol em sua composição. O Mapa não orientou a suspensão do uso de produtos que contenham propilenoglicol na sua formulação”, concluiu o órgão.