Anúncio de Lula como “candidatíssimo” à reeleição não garante fidelidade da base, e centro-direita segue instável

Mesmo partidos considerados mais propensos a uma composição eleitoral, como PSD e MDB, não oferecem garantias.

O anúncio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de que é “candidatíssimo” à reeleição em 2026 foi interpretado por parlamentares como uma tentativa de afastar o clima de esgotamento precoce de seu governo. Feito durante jantar com deputados no dia 23 de abril, o gesto, porém, não foi suficiente para unificar sua base aliada — marcada por fissuras, desconfianças e inclinações crescentes à candidatura de Tarcísio de Freitas (Republicanos).

União Brasil, PSD, MDB, PP e Republicanos, partidos que somam quase metade da Câmara dos Deputados (240 parlamentares), integram formalmente a coalizão de Lula, mas não garantem apoio à eventual candidatura petista. Ao contrário, têm flertado com alternativas, sendo o nome do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, o que mais galvaniza o centro e a direita.

Um símbolo da dificuldade de articulação do Planalto é a reforma ministerial prometida desde 2023, que permanece travada. A expectativa era de mudanças após as eleições municipais de 2024, premiando partidos mais engajados com a reeleição do presidente. Seis meses depois, apenas trocas pontuais ocorreram, como as saídas de Carlos Lupi (Previdência), envolvido em escândalo no INSS, e Juscelino Filho (Comunicações), alvo de denúncia da PGR.

A crise se agravou com o episódio envolvendo o deputado Pedro Lucas Fernandes (União Brasil-MA). Escolhido por Davi Alcolumbre, recebeu convite para assumir a pasta de Comunicações, aceitou publicamente, mas recuou dias depois diante da forte pressão interna — reflexo da fragilidade da base governista e das divergências no próprio partido.

Apesar disso, não se espera uma ruptura imediata. Parlamentares ressaltam que os cinco partidos têm acesso à máquina federal, com controle de 11 ministérios, e dificilmente abrirão mão desses espaços a um ano e meio das eleições. Ao mesmo tempo, o PT não possui maioria no Congresso e depende dessas alianças, mesmo que voláteis e desconfortáveis.

O horizonte eleitoral ainda é incerto. Lula, que terá 81 anos em 2026, já sinalizou dúvidas sobre disputar um quarto mandato. “Se eu tiver 100% de saúde, como estou hoje”, disse ele em fevereiro, indicando que a decisão final ainda está em aberto.

Entre as variáveis estão:

  • A candidatura de Tarcísio à Presidência ou à reeleição em SP;

  • A elegibilidade de Jair Bolsonaro (PL) e seu eventual apoio a Tarcísio ou a outro nome, possivelmente dos filhos Flávio ou Eduardo Bolsonaro;

  • O comportamento da economia, especialmente a inflação de alimentos;

  • E a popularidade de Lula, que atingiu níveis baixos no início de 2024.

Dentro da base, o União Brasil é emblemático. Mesmo com três ministérios, atua com ambiguidade: enquanto Davi Alcolumbre se aproxima do Planalto, outras alas alimentam o bolsonarismo ou pregam independência. O PSD, de Gilberto Kassab, também está dividido: com três ministérios no governo federal, Kassab é ao mesmo tempo secretário de Tarcísio em São Paulo e entusiasta da candidatura do governador.

O MDB mantém figuras próximas a Lula, como Helder Barbalho e Renan Calheiros, mas abriga alas opositoras no Sul e Sudeste — herança do impeachment de Dilma Rousseff em 2016. Já o PP, presidido por Ciro Nogueira, critica abertamente o governo, apesar de controlar a Caixa Econômica Federal e o Ministério dos Esportes, sob influência de Arthur Lira.

O Republicanos, além de ser o partido de Tarcísio, tem vínculos com a Igreja Universal, setor historicamente antipetista. Em recente anúncio de federação com o PP, os discursos tiveram viés oposicionista, com ausência de nomes ligados ao Planalto.

Mesmo partidos considerados mais propensos a uma composição eleitoral, como PSD e MDB, não oferecem garantias. As movimentações de Kassab e a divisão interna entre alas pró e contra Lula mantêm o cenário indefinido.

O Planalto encara, portanto, um desafio estrutural: sustentar uma base pragmática e dispersa em meio à construção de um projeto de reeleição ainda incerto — e com adversários cada vez mais articulados.

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