Usuários de ônibus em João Pessoa reclamam de atrasos e redução de linhas

Com o fim da integração no terminal do Varadouro, desativação de linhas e diminuição de frota, não está fácil se locomover na cidade. Passagem de ônibus na capital paraibana é a mais cara do Nordeste.

Ônibus lotados, atrasos constantes e falta de higiene são apenas alguns dos relatos dos usuários do transporte público de João Pessoa. A volta às aulas presenciais na Universidade Federal da Paraíba (UFPB) intensificou ainda esses problemas e muitos se queixam. “O preço não é justo e o aumento recente não tem justificativa pelo serviço que prestam”, disse a estudante Ana Beatriz, de 20 anos.

A jovem começou recentemente o curso de Relações Públicas na Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e teve sua primeira aula presencial na semana passada. Para sua surpresa, passou mais de duas horas esperando um ônibus para sua casa.

“Tive que pedir Uber, que nem 90% da parada que desistiu de esperar. Isso sem contar a chuva. Nesse período de 2 horas só passou pouquíssimos ônibus, alguns até pularam a parada”, escreveu em uma rede social em uma postagem com mais de 600 curtidas.

Nos comentários do post, outros usuários com as mesmas queixas: atrasos constantes, frotas insuficientes e sobretudo, um preço muito caro para o serviço oferecido.

Atrasos e outros problemas

Ana Beatriz mora em Mangabeira IV e o percurso até à universidade é até breve, mas por conta da demora do ônibus que normalmente pega, o 303, ela espera de 30 minutos a 1 hora – quando o ônibus passa.

Mas essa não é a única rota que ela faz. Ao todo, a estudante pega cinco ônibus por dia, incluindo o trajeto para a universidade e para seu estágio no Bairro dos Estados.

“É muito comum o ônibus Epitácio-Bairro dos Estados atrasar ou não passar, nesses casos, eu ando 2km da Epitácio até o estágio”, relatou.

O diarista de 47 anos Naldo Elinaldo tem uma experiência semelhante. Para chegar ao trabalho, ele pega dois ônibus.

São quatro ônibus por dia e ultimamente, ele enfrenta a dificuldade que foi ter linhas antigas cortadas, especificamente a 513 (Tambaú) e a 5204 (Cristo/Praia).

“Muita gente dependia dele para ir para o trabalho na orla marítima, e nas áreas de Manaíra e Tambaú”, explica.

Além disso, ele se queixa da falta de higiene no transporte coletivo. Ele cita que falta álcool em gel para a limpeza das mãos, lavagens mais frequentes nos veículos e também manutenções básicas, como trocar os bancos, e fazer ajustes nas janelas e tetos dos veículos que circulam na cidade.

“E outra queria, que voltasse a integração de antes. Quando chegavam lá (no Terminal de Integração) a gente fica esperando sem ter que pagar outra passagem, dentro a gente pegava qualquer outro ônibus pra qualquer lugar. Faz falta sim, aquela integração de antes da pandemia”, disse o diarista.

Passageiros em João Pessoa enfrentam superlotação, falta de higiene nos ônibus, além de uma frota escassa durante à noite — Foto: Natália Williany/Arquivo pesssoal

Passageiros em João Pessoa enfrentam superlotação, falta de higiene nos ônibus, além de uma frota escassa durante à noite — Foto: Natália Williany/Arquivo pesssoal

Cadê o Ônibus João Pessoa?

Uma página independente vem relatando publicamente diversos relatos de problemas enfrentados por usuários do transporte público da capital.

Em conversa com os administradores da página preferiram não ser identificados, mas falaram que criaram a página porque viram como estava difícil ir trabalhar e além disso, escutavam constantemente reclamações de outros usuários nas paradas. “Estávamos isolados e reclamando sem propagação”, afirmam.

Eles relatam que diariamente são diversas reclamações que chegam, mas muitas delas parecem ter origens em comum: o fim da integração do Varadouro e a desativação e redução de frota de várias linhas de ônibus.

Com o fim da integração física e as reduções, muitas pessoas ficam espalhadas nas paradas e recorrem as linhas 1500 e 5100, conhecidas como Circular, por passarem por diversos bairros da cidade.

Porém, isso cria a lotação dessas linhas e por isso, muitas vezes os motoristas nem param nos pontos para pegar mais passageiros, por falta de espaço, como explica os administradores da ‘Cadê O Ônibus João Pessoa’.

“Esses 3 problemas mexem no bolso dos usuários e também com a vida, muita gente tá pagando dobrado, está esperando por horas na parada, pegando ônibus lotado e chegando em casa tarde. Recebemos relatos de mulheres que estão chegando em 23h30, largam do trabalho 21h”, escrevem.

Além disso, cadeirantes relatam à página ter que esperar bastante e ver diversos ônibus passar nas paradas sem o elevador que permite que eles entrem no transporte coletivo.

Passagem mais cara do Nordeste

Atualmente, os moradores de João Pessoa pagam R$ 4,40 na passagem de ônibus. O valor aumentou em fevereiro com um reajuste de 6% e a capital paraibana se tornou a mais cara do Nordeste para se locomover no transporte público, juntamente com Salvador. O aumento leva a capital paraibana, ainda a lista das noves capitais mais caras do país.

Passageiros se aglomeram para entrar em ônibus da linha 302 (Cidade Verde/Mangabeira VII/Pedro II) durante horário de pico, por volta das 18h, em João Pessoa  — Foto: Lara Brito/g1 Paraíba

Passageiros se aglomeram para entrar em ônibus da linha 302 (Cidade Verde/Mangabeira VII/Pedro II) durante horário de pico, por volta das 18h, em João Pessoa — Foto: Lara Brito/g1 Paraíba

O que diz a prefeitura

No que diz respeito ao atendimento a UFPB, a Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana (Semob) informou que a linha 527 (Castelo Branco/Epitácio) retornaria quando as aulas da universidade voltassem. Em conversa com a empresa, ficou acertado que volta na próxima segunda-feira.

Sobre os atrasos, a Semob afirma que eles seriam “os intervalos de viagens à noite, que devido a baixa demanda, há poucas viagens”, escreve.

Ônibus da linha 518 (Bancários/Epitácio) lotado por volta das 18h. Capacidade máxima de pessoas em pé no transporte coletivo de João Pessoa é de 12 pessoas. — Foto: Lara Brito/g1 PB/Arquivo Pessoal

Ônibus da linha 518 (Bancários/Epitácio) lotado por volta das 18h. Capacidade máxima de pessoas em pé no transporte coletivo de João Pessoa é de 12 pessoas. — Foto: Lara Brito/g1 PB/Arquivo Pessoal

Em nota divulgada de março, a Semob também informou que iria retomar a operação de três linhas: 5605 (Mangabeira Shopping), 402 (Torre) e 702 (Alto do Mateus).

Além disso, também prometeu que serão ampliados os horários de funcionamento das linhas 301 (Mangabeira/D. Pedro II), 518 (Bancários/Epitácio), 102 (Esplanada/João Paulo), 523 (Colinas do Sul/Epitácio), 510 (Tambaú/ Largo de Tambaú) e 110 (Jardim Planalto), com o último carro saindo às 22h50 do Terminal de Integração do Varadouro (TIV).

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