Folha destaca dilemas do PT na Paraíba para Eleições 2022: “esquerda fraturada e disputa por apoio de Lula”

Um dos focos de maior tensão é a Paraíba, onde João Azevêdo (PSB) e Ricardo Coutinho (PT), rompidos desde 2019, enfrentam disputa aberta pelo apoio de Lula no estado.

SAO BERNARDO DO CAMPO, BRAZIL - MARCH 10: Luiz Inacio Lula da Silva, Brazil's former president, speaks during a press conference after convictions against him were annulled at the Sindicato dos Metalurgicos do ABC on March 10, 2021 in Sao Bernardo do Campo, Brazil. Minister Edson Fachin, of the Federal Supreme Court, annulled on Monday the criminal convictions against former President Luiz Inacio Lula da Silva on the grounds that the city of Curitiba court did not have the authority to try him in court for corruption charges and he must be retried in federal courts in the capital, Brasilia. The decision means Lula regains his political rights and would be eligible to run for office in 2022. (Photo by Alexandre Schneider/Getty Images)

A aliança que dará sustentação à candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na disputa pelo Planalto não deve se repetir nas eleições estaduais no Nordeste, região que concentra a maioria dos governadores aliados e que é um dos principais redutos do petista.

A provável chapa com PT, PC do B, PV, PSB, Rede e Solidariedade não deverá ser replicada em nenhum dos nove estados da região. Com isso, há chance que Lula tenha dois ou até três palanques em cada estado nordestino.

Em Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte, por exemplo, o embate entre candidatos de partidos da base lulista promete ser mais tenso e deve ser marcado por rusgas, atritos e acusações mútuas.

O cenário de conflito preocupa cúpula da campanha petista, que atua para que rixas paroquiais não atinjam a eleição nacional, criando problemas desnecessários para Lula.

Um dos focos de maior tensão é a Paraíba, onde o governador João Azevêdo (PSB) e o ex-governador Ricardo Coutinho (PT), rompidos desde 2019, protagonizam desavenças públicas e enfrentam uma disputa aberta pelo apoio de Lula no estado.

Azevêdo concorre à reeleição amparado por uma ampla frente de partidos de centro, enquanto Coutinho concorrerá ao Senado na chapa que será liderada por Veneziano Vital do Rêgo (MDB).

Os três eram aliados na campanha vitoriosa que elegeu Azevêdo em 2018, mas se afastaram ao longo do mandato. O PT, por sua vez, rachou no ano passado após a filiação de Coutinho: uma parcela do partido se manteve com o governador e outra parte foi para a oposição.

Em entrevista a jornalistas e youtubers nesta semana em São Paulo, Lula classificou como um “bom problema” o cenário eleitoral conturbado e com múltiplos palanques na Paraíba.

“Um técnico da seleção tem um bom problema quando tem muito jogador bom. Na Paraíba, eu estou feliz com a minha situação, porque muita gente boa quer trabalhar conosco, querendo fazer aliança. Eu não recuso voto”, disse.

Além de Azevêdo e Veneziano, Lula também será apoiado pela pré-candidata ao governo Adjany Simplicio (PSOL) e mantém conversas com a vice-governadora Lígia Feliciano (PDT). Há possibilidade de um palanque quádruplo no estado.

A postura de desprendimento em relação aos palanques, contudo, não se repete na vizinha Pernambuco. Lá, a deputada federal Marília Arraes trocou o PT pelo Solidariedade e vai concorrer ao governo contra o deputado federal Danilo Cabral, que tentará manter a hegemonia de 16 anos do PSB no estado.

Mesmo com três candidaturas em seu arco de alianças -também concorrerá ao governo o advogado João Arnaldo (PSOL)-, o petista afirmou nesta sexta-feira (29) que apoiará apenas o candidato do PSB.

“Embora eu mantenha toda relação que eu tenho de respeito pela Marília, eu, sinceramente, vou trabalhar para que Danilo seja o governador do estado de Pernambuco”, disse Lula em entrevista à Rádio Jornal.

Pernambuco é um colégio eleitoral crucial e simbólico para o PSB, motivo que levou Lula a priorizar Cabral e não criar arestas na aliança nacional. Ainda assim, Marília Arraes tem atrelado à sua imagem ao ex-presidente e critica o PSB por vetar a adoção de palanques múltiplos para Lula no estado.

“A gente quer que Lula ganhe a eleição, a gente está preocupado de verdade que Lula ganhe a eleição e derrote Bolsonaro. Eles estão preocupados em manter o poder em Pernambuco. Essa é a preocupação deles”, afirmou a deputada em ato político na última segunda-feira (25).

Outro foco de conflito é o Maranhão, onde o PT está fraturado entre o governador Carlos Brandão (PSB), alçado ao cargo em abril após a renúncia de Flávio Dino (PSB), e o senador Weverton Rocha (PDT).

Ambos fazem parte da base de Dino, que tenta isolar Weverton e consolidar seus apoiadores em torno de Brandão, que foi filiado ao PSDB e ao Republicanos antes de ir para o PSB.

Formalmente, os petistas vão apoiar Brandão e indicaram como candidato vice Felipe Camarão, ex-secretário estadual de Educação que até ano passado era filiado ao DEM.

Mas houve uma reação no último domingo (24), quando militantes petistas fizeram um ato de apoio a Weverton, que apesar de filiado ao PDT também tem proximidade com Lula.

“A tendência é que a direção do partido apoie Brandão, que é uma pessoa sem nenhuma afinidade com a nossa base. Mas a militância e os movimentos sociais estarão com Weverton”, afirma Honorato Fernandes, presidente do PT em São Luís.

Assim como em Pernambuco, o Rio Grande do Norte também deve ser palco de conflitos entre o PT e Solidariedade. Neste caso, um embate direto.

Vice-governador entre 2015 e 2018, o empresário Fábio Dantas (Solidariedade) vai liderar a chapa de oposição à governadora Fátima Bezerra (PT), que concorre a um novo mandato em outubro.

Mas não haverá disputa em torno de Lula. Mesmo filiado a um partido da base petista, Dantas cercou-se de aliados de Jair Bolsonaro (PL), terá o ex-ministro Rogério Marinho (PL) como candidato ao Senado e afirmou querer o apoio do presidente.

“Eu quero o apoio de Bolsonaro, eu quero o apoio do centro, eu quero o apoio da esquerda que é insatisfeita com Fátima”, disse Dantas, em ato de lançamento da sua pré-candidatura.

O Solidariedade também estará no campo oposto ao PT na Bahia e vai apoiar ACM Neto (União Brasil) na disputa pelo governo baiano contra Jerônimo Rodrigues (PT). Com um partido da base de Lula em seu palanque, o ex-prefeito reforça sua estratégia de se afastar do bolsonarismo.

PT e PSB também estarão em palanques opostos em Alagoas, mas na condição de coadjuvantes. Os petistas formalizaram aliança com Paulo Dantas (MDB), candidato apoiado pelo ex-governador Renan Filho, dentro da estratégia de atrair, no varejo, emedebistas em estados do Nordeste.

O PSB estará no palanque do senador Rodrigo Cunha (União Brasil), principal candidato de oposição. Alagoas é o único estado do Nordeste em que o PSB não tem proximidade com Lula e chegou a flertar com o bolsonarismo.

Em estados como o Piauí e Sergipe, por outro lado, ainda há possibilidade de união dos partidos da base lulista em torno de um único candidato.

No Piauí, o pré-candidato Rafael Fonteles (PT) já tem o apoio de PV, PC do B, PSB e Solidariedade, mas trabalha para trazer coalizão a Rede e o PSOL, que ainda avaliam candidatura própria.

O cenário é semelhante em Sergipe, onde o senador Rogério Carvalho tende a unir todos os partidos da base lulista em torno de sua candidatura. Ele enfrentará nas urnas o deputado federal Fábio Mitidieri (PSD), que tem o apoio do governador Belivaldo Chagas (PSD) e também declarou apoio a Lula.

O PSOL, mesmo com aliança nacional, vai se descolar do PT nas disputas estaduais e lançou pré-candidaturas em oito dos nove estados do Nordeste. Em estados como Bahia e Pernambuco, a postura do partido é de enfrentamento e críticas aos governos do PT e PSB.

*

PARTIDOS DA BASE LULISTA NO NORDESTE

ALAGOAS

PT/PC do B/PV – Apoio a Paulo Dantas (MDB)

PSB – Apoio a Rodrigo Cunha (União Brasil)

Solidariedade – Apoio a Paulo Dantas (MDB)

PSOL/Rede – Pré-candidatura de Cícero Albuquerque (PSOL)

BAHIA

PT/PC do B/PV – Pré-candidatura de Jerônimo Rodrigues (PT)

PSB – Apoio a Jerônimo Rodrigues (PT)

Solidariedade – Apoio a ACM Neto (União Brasil)

PSOL/Rede – Pré-candidatura de Kleber Rosa (PSOL)

CEARÁ

PT/PC do B/PV – Apoio a Izolda Cela, Roberto Cláudio ou Mauro Filho (PDT)

PSB – Apoio a Izolda Cela, Roberto Cláudio ou Mauro Filho (PDT)

PSOL/Rede – Pré-candidatura de Adelita Monteiro (PSOL)

Solidariedade – Indefinido

MARANHÃO

PSB – Pré-candidatura de Carlos Brandão (PSB)

PT/PC do B/PV – Apoio a Carlos Brandão (PSB), mas base rachada

Solidariedade – Pré-candidatura de Simplício Araújo (Solidariedade)

PSOL/Rede – Pré-candidatura de Enilton Rodrigues (PSOL) ou apoio a Weverton Rocha (PDT)

PARAÍBA

PSB – Pré-candidatura de João Azevêdo (PSB)

PT/PC do B/PV – Apoio a Veneziano Vital do Rêgo (MDB), mas base rachada

PSOL/Rede – Pré-candidatura de Adjany Simplicio (PSOL)

Solidariedade – Indefinido

PERNAMBUCO

PSB – Pré-candidatura de Danilo Cabral (PSB)

Solidariedade – Pré-candidatura de Marília Arraes (Solidariedade)

PSOL/Rede – Pré-candidatura de João Arnaldo (PSOL)

PT/PC do B/PV – Apoio a Danilo Cabral (PSB)

PIAUÍ

PT/PC do B/PV – Pré-candidatura de Rafael Fonteles (PT)

PSOL/Rede – Pré-candidatura de Lucineide Barros (PSOL)

PSB – Apoio a Rafael Fonteles (PT)

Solidariedade – Apoio a Rafael Fonteles (PT)

RIO GRANDE DO NORTE

PT/PC do B/PV – Pré-candidatura de Fátima Bezerra (PT)

Solidariedade – Pré-candidatura de Fábio Dantas (Solidariedade)

PSOL/Rede – Pré-candidatura de Danniel Morais (PSOL)

PSB – Apoio a Fátima Bezerra (PT)

SERGIPE

PT/PC do B/PV – Pré-candidatura de Rogério Carvalho (PT)

PSB – Apoio a Rogério Carvalho (PT)

Solidariedade – Apoio a Rogério Carvalho (PT)

PSOL/Rede – Indefinido

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