Jovens que chegaram a Campina Grande para cursar graduação relatam gratidão e amor à cidade

Campina Grande, que completa 156 anos neste domingo (11), tornou-se a casa de vários estudantes de outros municípios e estados devido ao ensino superior.

Sentir-se em casa, mais do que uma sensação, é um processo. Campina Grande, que completa 156 anos neste domingo (11), tornou-se a casa de vários estudantes de outros municípios e estados, que se mudaram para a cidade com o objetivo de cursar o ensino superior.

De acordo com o último levantamento feito pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), no campus de Campina Grande, o período letivo 2018.1 conta com pelo menos 1.065 alunos de outros estados matriculados na instituição. Os dados não consideram o número de alunos de outros municípios dentro da Paraíba, que estudam no campus.

Porque escolher Campina Grande?

Nathalia Wandenkolk é do Rio de Janeiro, tem 25 anos e há cinco anos se mudou para Campina Grande. — Foto: Arquivo pessoal/Nathalia Wandenkolk

Nathalia Wandenkolk é do Rio de Janeiro, tem 25 anos e há cinco anos se mudou para Campina Grande. — Foto: Arquivo pessoal/Nathalia Wandenkolk

Nathalia Wandenkolk é do Rio de Janeiro, tem 25 anos e há cinco anos se mudou para Campina Grande. Ela cursa medicina pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) e quando decidiu morar na cidade, levou em consideração fatores relacionados à qualidade de vida que teria nos próximos anos.

“Após o Enem, na etapa de escolha de universidades no Sisu, eu procurei entre os locais em que eu passaria para medicina qual cidade tinha melhor estrutura, como aeroporto e shopping. Fiquei entre Petrolina e Campina Grande, e terminei optando por Campina, mesmo sem nunca ter vindo aqui antes”, contou.

Nathalia cursa medicina na UFCG. — Foto: Arquivo pessoal/ Nathalia Wandenkolk

Nathalia cursa medicina na UFCG. — Foto: Arquivo pessoal/ Nathalia Wandenkolk

A mudança de vida foi radical. A parte mais complicada, para Nathalia, foi ficar tão longe da família.

“A parte mais difícil era estar longe da família, principalmente. Mas sempre fui muito acolhida aqui, o que tornava mais leve a adaptação. Recebi muita ajuda de vizinhos que me convidavam para almoçar, amigos da igreja que me levavam para conhecer lugares diferentes, e os colegas de turma também sempre foram extremamente gentis e solícitos”, relembra.

Além dos novos amigos, que acolheram Natália e a fizeram se sentir em casa, outros detalhes de Campina ajudaram no processo de construção da nova “casa”. Entre eles, o clima. Campina Grande fica no Agreste da Paraíba e registra temperaturas baixas durante algumas estações do ano, o que ajudou a carioca gostar ainda mais da cidade. “O friozinho e a qualidade de vida. O clima dessa cidade é maravilhoso, sempre fresco à noite não importa o calor que faça durante o dia”, destaca.

Para Nathalia, Campina “é uma cidade que une a estrutura de cidades grandes, mas conserva o que é melhor nas cidades pequenas: é mais tranquila, tem menos trânsito e menos violência”.

“Me sinto parte dessa terra. Mesmo não tendo nascido aqui, Campina me acolheu e me ofereceu oportunidades maravilhosas. Por isso sou muito grata à cidade e a esse povo”

Conforme dados fornecidos pela Pró-reitoria de ensino da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), dos alunos matriculados em Campina Grande, em 2020, do total de 7.908, 5.712 são oriundos da Paraíba. Os demais, 2.196, são de outros estados.

‘Vejo meu futuro em Campina’

Ezequiel Antônio tem 20 anos e há dois anos saiu de Camalaú, para morar em Campina Grande. — Foto: Arquivo pessoal/Ezequiel Antônio

Ezequiel Antônio tem 20 anos e há dois anos saiu de Camalaú, para morar em Campina Grande. — Foto: Arquivo pessoal/Ezequiel Antônio

Conforme o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Campina Grande tem mais de 385 mil habitantes. Ezequiel Antônio tem 20 anos e há dois anos saiu de Camalaú, cidade com 5.749 habitantes, no Cariri paraibano, para morar na cidade onde iria iniciar o ensino superior.

Ele está no sexto período do curso de odontologia, em uma universidade particular da cidade e enfrentou muitos desafios até chamar Campina Grande de lar. “Costumo sempre dizer que o meu processo de vir estudar e morar aqui foi meio doloroso. Você sair de perto da sua família e amigos e ir para outra cidade onde você não tem ninguém é muito conturbado”, disse.

Ezequiel sentiu de cara as diferenças entre a cidade que morava e a nova. Talvez só quem entenda a diferença é quem também saiu de casa cedo, sozinho e cheio de sonhos. De cara, a primeira grande dificuldade: um lugar para morar. A diferença no custo de vida é um dos fatores que leva muitos estudantes a procurar outras pessoas para dividir um lugar para morar.

“Postei em uma rede social e apareceu uma pessoa de Patos e mesmo sem nos conhecermos pessoalmente fomos morar juntos. A gente se conectou muito porque éramos dois perdidos. Tudo o que a gente foi conhecendo de Campina foi junto”, relembra Ezequiel.

O amor de Ezequiel por Campina Grande não foi à primeira vista. Mesmo indo para a cidade na tentativa de realizar o sonho de cursar odontologia, a saudade do que ficou e o medo do que estava por vir o assustavam: “Eu sempre falava que nunca ia gostar de Campina”.

O jovem também sentiu bastante diferença ao entrar na universidade privada. “Eu vim de uma vida inteira em escolas públicas e estudar em faculdade particular é muito diferente. Eu passei noites inteiras chorando pensando em formas de aprender mais rápido”, contou.

Ezequiel Antônio cursa odontologia em uma universidade particular de Campina Grande. — Foto: Arquivo pessoal/ Ezequiel Antônio

Ezequiel Antônio cursa odontologia em uma universidade particular de Campina Grande. — Foto: Arquivo pessoal/ Ezequiel Antônio

Mas, com o tempo, vieram as mudanças. Em dois anos na cidade, Ezequiel fez amigos na faculdade, conseguiu achar formas de estudar melhor e se apaixonou pela cidade. Hoje, o sonho de ser tornar dentista está cada dia mais perto, mas a vontade de sair de Campina Grande passou.

“Hoje em dia eu me sinto completamente adotado por Campina Grande, me sinto em casa. Brinco que sou um campinense nato e vejo todo o meu futuro pessoal e profissional aqui, ao lado das pessoas e das coisas que fui conquistando ao longo do tempo”

‘Fui só com a cara e a coragem’

Naiara Siqueira é do Piauí e mora em Campina Grande há menos de um ano. — Foto: Arquivo pessoal/Naiara Siqueira

Naiara Siqueira é do Piauí e mora em Campina Grande há menos de um ano. — Foto: Arquivo pessoal/Naiara Siqueira

O sonho de Naiara Siqueira está começando. Ela tem 22 anos, é de São João do Piauí, no estado do Piauí, e chegou em Campina Grande há menos de um ano. Mesmo assim, Naiara diz de cara: “já me sinto campinense”. Mesmo recém chegada e passando pelo que ela chama de “perrengue”, a estudante vê na cidade a possibilidade de realizar sonhos.

A jovem é estudante do curso de Educomunicação, na UFCG, e cogitou outros lugares até escolher morar em Campina Grande.

“Queria cursar comunicação social, porém não queria ir para capital do meu estado, Teresina. A princípio, cogitei estudar em São Luís do Maranhão, acabei pesquisando sobre algumas cidades do Nordeste e acabei gostando de Campina. Então, decidi jogar minha nota do Enem para a UFCG, e graças a Deus deu tudo certo”, contou.

Naiara Siqueira cursa educomunicação na UFCG e pretende continuar em Campina Grande após curso — Foto: Arquivo pessoal/Naiara Siqueira

Naiara Siqueira cursa educomunicação na UFCG e pretende continuar em Campina Grande após curso — Foto: Arquivo pessoal/Naiara Siqueira

Sobre as dificuldades, Naiara conta que “perrengue teve, fui só com a cara e coragem, não conhecia ninguém”, o que a maioria dos estudantes de outras cidades também passa. Mas, as coisas boas, para Naiara, são maioria. Além da “alegria do pessoal, dos ‘rolezinhos’ do final de semana”, ela também fez grandes amizades. “Encontrei um anjo, que se chama Érica e que mora comigo . Ela me ajudou muito, me mostrou a cidade e quando percebi já me sentia de Campina”, disse.

Após o término do curso, a jovem pretende continuar morando em Campina Grande. “Apesar de amar o Piauí, vejo Campina Grande uma cidade de grande potencial econômico, e de oportunidades, minha cidade é no interior do Piauí, não tem tanta oportunidade de carreira como aqui”.

Campina é gratidão

Ezequiel, Nathalia e Naiara têm algo em comum. Todos falam de Campina Grande com o mesmo sentimento: gratidão. Pelas mudanças, pelos aprendizados, pelo acolhimento, pelas dores, pelas pequenas vitórias e pela esperança do sonho cada dia mais próximo.

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