MP faz busca em endereços de Queiroz e de ex-assessores de Flávio Bolsonaro

RIO — O Ministério Público do Rio cumpre na manhã desta quarta-feira diversos mandados de busca e apreensão em endereços de ex-assessores do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) tanto na capital como em Resende, no Sul do Estado do Rio. As medidas cautelares foram pedidas na investigação sobre lavagem de dinheiro e peculato (desvio de dinheiro público) no âmbito do antigo gabinete do senador quando era deputado estadual na Assembleia Legislativa do Rio. 

São alvo das medidas cautelares os endereços de Fabrício Queiroz, ex-chefe da segurança de Flávio, seus familiares e ainda parentes de Ana Cristina Siqueira Valle, ex-mulher do presidente Jair Bolsonaro.

As medidas cautelares desta quarta-feira atingem sobretudo ex-assessores que também tiveram sigilo fiscal e bancário quebrado pelo Tribunal de Justiça do Rio em abril. Ao todo, na ocasião, 96 pessoas e empresas foram alvo da decisão da 27ª Vara Criminal do Rio, cujo titular é o juiz Flávio Itabaiana de Oliveira Nicolau.

No Rio, uma equipe do MP esteve na manhã desta terça-feira no condomínio em Jacarepaguá, Zona Oeste do Rio, onde morava Evelyn Queiroz, filha do ex-assessor de Flávio. Ao chegaram ao local, porém, foram informados na portaria que "a pessoa (que mora atualmente) no apartamento não era o alvo da operação".

A defesa de Fabrício Queiroz disse ter recebido a informação a respeito da recente medida de busca apreensão com "tranquilidade" e ao mesmo tempo "surpresa" e a classficou de "absolutamente desnecessária".

Evelyn foi uma das funcionárias contratadas pelo gabinete de Flávio na Alerj. Após as denúncias do esquema de "rachadinha" – como é conhecida a prática de funcionários devolverem parte dos salários – e da existência de funcionários fantasmas no gabinete, Queiroz adotou discrição e se afastou dos holofotes para tratar um câncer. Ele tem se consultado no Hospital Albert Einstein, em São Paulo.

Em Resende, são alvo os nove parentes de Ana Cristina Siqueira Valle que foram lotados no gabinete de Flávio durante algum período entre 2003 e o ano passado – tempo de seus quatro mandatos. José Procópio Valle, ex-sogro de Bolsonaro, Andrea Siqueira Valle, ex-cunhada de Bolsonaro, além dos primos Francisco Diniz, Daniela Gomes, Juliana Vargas e Guilherme dos Santos Hudson, além da tia Ana Maria Siqueira Hudson.

Equipes do MP também foram às casas de Maria José de Siqueira e Silva e Marina Siqueira Guimarães Diniz, tias da ex-mulher de Bolsonaro Ana Cristina Valle, mãe de Jair Renan. Após cerca de 1 hora nos endereços, o MP deixou o local com celulares e documentos. As duas, que estavam em casa, não quiseram se pronunciar sobre a ação desta quarta-feira.

Já o tio de Ana Cristina, Guilherme Hudson, falou ao GLOBO, o primo de Ana Cristina disse que o processo corre em segredo de Justiça e que não iria comentar a ação:

– Essa investigação transcorre em segredo de Justiça. O fato deles (MP) terem passado aqui e levado computador e celular é um ato administrativo normal. Levaram o que quiseram, praticamente nada – disse.

Questionado se havia trabalhado como assessor na Câmara de Vereadores, Guilherme afirmou que sim e que a informação é “mais conhecida do que bolacha Maria”.

– Eu não tenho nada a dizer sobre isso. Tem que achar é quem inventou essa história.

Guilherme Hudson foi lotado quando tinha 23 anos e ainda cursava Direito. Ele só concluiu o curso na Universidade Estácio de Sá no final de 2008 — o que o obrigaria a conciliar as tarefas no gabinete com o final do curso. Ao menos desde 2012, Guilherme possui residência fixa em Resende, onde casara em 2011 e abrira um escritório de advocacia, além de uma loja de decoração com a mulher, a professora Ananda de Menezes Hudson, de 31 anos.

Desde 2012, o site do Tribunal de Justiça do Rio mostra que ele atuou em 68 processos na região de Resende e em cinco na capital. Chegou a fazer concurso para a prefeitura de Barra Mansa, mas foi reprovado. Pessoas que o conhecem em Resende jamais souberam de seu cargo na Câmara Municipal do Rio, pois conhecem suas atividades na cidade no sul do estado.

Em junho, O GLOBO mostrou que o vendedor aposentado José Procópio Valle e Maria José de Siqueira e Silva, pai e tia de Ana Cristina, jamais tiveram crachá funcional da Alerj. Ele ficou lotado cinco anos e ela, nove.

Já Andrea Siqueira Valle foi fisiculturista em Resende durante todo o tempo em que constou como assessora e Francisco Diniz chegou a cursar faculdade integral de Medicina Veterinária em Barra Mansa, também no Sul do estado, no mesmo período em que foi nomeado assessor de Flávio na Alerj.

A investigação foi instaurada em 31 julho do ano passado, meses depois que o antigo Conselho de Controle de Atividades Financeiras enviou espontaneamente um relatório ao MP com movimentação atípica de Queiroz num total de R$ 1,2 milhão entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017.

O caso ficou parado de julho até novembro aguardando decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a legalidade do compartilhamento de informações sigilosas por órgãos como a Unidade de Inteligência Financeira (UIF, antigo Coaf) e a Receita Federal com o Ministério Público e órgãos policiais sem autorização judicial. O STF aprovou no mês passado a tese para o compartilhamento.

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